sexta-feira, 1 de junho de 2007

Eu creio na Igreja

A igreja é um objeto da fé. No Credo Apostólico afirmamos: "Creio em Deus Pai, Criador..., em Jesus Cristo, seu unigênito Filho..., no Espírito Santo..., na Santa Igreja Católica Apostólica..., na comunhão dos santos... na ressurreição do corpo e na vida eterna".Cremos na igreja. O Credo Apostólico não diz que a igreja é uma organização que nos ajuda a crer em Deus, mas que devemos crer nela da forma como cremos em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, vida eternal, etc. Crer na igreja parece ser mais difícil do que crer em Deus. Deus é fiel, imutável, pleno de amor, graça e perdão. É justo, compassivo, misericordioso e paciente. Não mente, é leal, confiável. Nos aceita como somos e recebe-nos como seus filhos amados. Não é muito difícil crer num Deus assim. Mas, e crer na igreja? Comunidade de pecadores, infiéis, injustos, fofoqueiros, maledicentes, intolerantes, maliciosos, inconstantes, mentirosos, falsos e hipócritas. Lugar onde o amor é condicional, o perdão negociado, a paciência limitada, a aceitação somente entre os iguais.
Como é possível crer em duas realidades tão distintas?
Ouço com freqüência crentes afirmarem sua fé em Deus e suas suspeitas para com a igreja; sua confiança em Deus e desconfiança dos irmãos; sua esperança em Deus e suas promessas e desesperança na igreja e seu futuro.Separamos Deus da igreja. Num depositamos a fé, noutro suspeitas. Um é divino, outro humano. Deus e igreja são mundos distintos. Podemos crer num e descrer do outro. No entanto, o credo que confessamos afirma que cremos em Deus e cremos também na igreja. Uma saída para esta tensão é a de achar que a igreja do Credo Apostólico não é a minha igreja onde congrego, mas a igreja invisível, o corpo místico de Cristo, a igreja do Senhor espalhada pelos quatro cantos da terra. Esta igreja que não vejo, não comungo, não conheço, perfeita na minha imaginação é, para muitos, a igreja do Credo, a igreja que cremos. Porém, esta igreja invisível, universal, não é diferente, em sua natureza, da igreja real, visível e local em que congrego. Quando o Credo Apostólico fala da igreja, não se refere a outra igreja, aquela da nossa imaginação, mas à igreja que conhecemos tão bem, que domingo após domingo nos convida à mesa da comunhão. É nela que devemos crer. Creio em Deus e, creio também na igreja. Creio num Deus justo, santo e perfeito e, creio numa igreja de pecadores infiéis. Crer em Deus e na igreja não significa que ambos são da mesma natureza, mas que ambos fazem parte de um mesmo propósito. O Deus criador, Filho redentor, Espírito santificador, encarnação, cruz, morte, ressurreição, igreja, vida eterna, céu, fazem parte de uma história, de um plano divino. Não podem ser desconectados, excluídos. Fazem parte de uma só realidade. Embora a igreja seja uma comunidade de pecadores, confusa, constantemente envolvida em disputas, rivalidades e competição, ela continua sendo o povo de Deus, a comunidade daqueles que, em Cristo, foram adotados como filhos de Deus. É nesta igreja, santa e pecadora, que experimentamos a graça e o amor de Deus. Embora as pessoas que ali congregam sejam pecadoras, carregam consigo a imagem e semelhança de Criador e, na comunhão, experimentamos e tocamos, dia a dia, a beleza e santidade da obra de Deus. Não podemos amar a Deus se não amamos também nossos irmãos e irmãs, não podemos compreender e provar as virtudes da fé que temos em Deus se não for na comunhão com a igreja. Perdão, confiança, reconciliação, paz, mansidão, justiça, etc, nada podem ser compreendidos ou conhecidos se não for na companhia de outros. Crer na igreja é reconhecer a necessidade de que a verdadeira fé cristã só pode ser vivida comunitariamente. O individualismo é anticristão. Não há nenhuma possibilidade real de uma fé solitária, que se sustenta por si só; nem mesmo uma identidade que não reconhece a comunhão e a dependência. São Cipriano, mártir cristão, escreveu que "ninguém pode ter a Deus como Pai se não receber a igreja como mãe".Noutras palavras, o reconhecimento de Deus como Pai significa participar da comunhão dos seus filhos em amor. Creio em Deus e creio também na igreja. Quanto mais amo a Deus e provo de sua graça e perdão, mais a igreja faz sentido para mim. É ela que me mantém em contato com a realidade sobre quem Deus é, quem eu sou e como é o mundo onde vivo. A adoração, a eucaristia, a Palavra e a oração mantêm meus olhos abertos para não me corromper com as ilusões do mundo e seguir com fidelidade no caminho da fé.
Autor: Rev. Ricardo Barbosa de Sousa

1 comentários:

Flávio Oliveira disse...

Muito legal esse texto. Concordo completamente com ele. De certa maneira, vivendo em comunidades, nós fraquejamos, falamos mal das pessoas, pecamos. A ventagem é que podemos depois, durante as orações, fazer uma auto-análise e pedir sinceramente pelo perdão. Estaremos assim evoluíndo como seres humanos. Se nos isolamos numa ilha deserta, podemos até não pecar mas também não evoluímos.

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