segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Sobre Kaká. (um bom exemplo para jovens)




Na ultima noite do ano resolvi ficar em casa e colocar algumas coisas em dia, ou pelo menos tentar. Nas minhas andanças virtuais encontrei no site o verbo um desabafo do Fábio Bettes sobre um artigo de um "jornalista esportivo", o jornalista criticava o Káka e suas ações, leiam a resposta, eu gostei muito, por isso tomei a liberdade de postar na integra a matéria aqui.

http://www.overbo.com.br/modules/soapbox/article.php?articleID=42

Fábio Bettes
Sobre o artigo "Jesus, Amor, etc"

Esta foi a carta que enviei ao colunista de esportes da Folha de S. Paulo, em relação à matéria publicada neste jornal no caderno de esportes de sábado (22/12/2007). Não posso me calar diante dos absurdos que ouvimos e lemos por aí, que indiretamente atentam contra a nossa fé e o nosso Deus.
Curitiba, 22 de dezembro de 2007.

José Geraldo Couto:
Li seu artigo publicado na Folha no sábado (22/12/07), no caderno de esportes. Sem me prolongar muito nesta introdução, vamos ao que tenho a lhe dizer.

Primeiro

Não gosto, particularmente, desta mania que o ser humano tem de eleger para si ídolos, modelos de vida, de princípios e de mentalidade. Agora, infelizmente para uns, felizmente para outros, eles surgem ou, então, são criados. Kaká é o modelo em discussão; na sua opinião, um modelo superado, anacrônico e conservador. Por quê? Basicamente porque ele é diferente dos modelos, ou melhor, ou pior, dos lugares-comuns do meio futebolístico. Você ataca o “conservadorismo” de Kaká, mas você é quem demonstra o autêntico conservadorismo em relação ao modelo ideal de jogador, exemplo de virtude para os jovens: mulherengo, chegado a bebida, pitando um cigarrinho e de vida boêmia – cá entre nós, que coragem a sua em dizer tamanha besteira, hein?
Repito que não aprecio esse papo de modelos. Kaká pode até ser uma opção careta a essa juventude, mas não uma opção ultrapassada, ou então ridícula, ou então pior do que os modelos citados por você.

Segundo
Kaká errou, sim, em sair defendendo o casal criminoso da Renascer, e você acertou em pontuar tal falha do melhor jogador do mundo. Agora, misturar tal fato com a questão da virgindade – uma opção dele e de sua esposa – não apresenta o mínimo cabimento lógico-argumentativo. Colocar Kaká como o ressuscitador do discurso Tradição, Família e Propriedade é apenas um mote seu para a escrita de sua crônica, usado de modo inadequado ao contexto.
Mas aproveitando o seu mote, posso dizer que o seu texto, Zé, é que ilustra esse trinômio: a visão tradicional do futebol como coisa de malandro e para malandro; a familiaridade-conivência com os desvios de conduta ética e profissional; a propriedade com que se demonstram preconceitos e intolerâncias para com os terceiros ou diferentes.

Terceiro
O problema, Zé Geraldo, não é simplesmente o fato de você não aceitar Kaká como um bom modelo para os jovens. Você vai além: Kaká é mau exemplo, mas os “boleiros”, no sentido mais estrito e pejorativo do termo, são, de fato, os bons exemplos para a juventude. Que as mães das futuras Marias-Chuteiras prestem bastante atenção: exemplo não é o insípido Kaká, mas o sexy Vágner Love; que o Ministério da Saúde esteja atento: exemplo não é o careta Kaká, mas os imperadores e reis da noite, como Adriano ou Romário.
Quarto
Seu artigo premia justamente tudo aquilo que hoje nos foi mais prejudicial do que benéfico, tanto no meio futebolístico como em nossa vida em geral: a malandragem, a contravenção e a falta de seriedade. E não me venha dizer que somos os grandes vencedores do futebol por conta desse nosso “jeitinho”. Bem, nem preciso listar os inúmeros exemplos de derrotas ocasionadas por essas libertinagens, não? Você é um profissional nos assuntos da bola e um cidadão provavelmente indignado com tantas molecagens e safadezas de nossos políticos.
Quinto
Você acha a virgindade algo superado nos dias de hoje. Tudo bem, é a sua opinião. Mas veja a sua ingenuidade e leviandade ao abordar tal questão: o que se propõe como contraponto à virgindade: o sexo livre, casual, sem compromisso? A banalização do sexo, por acaso, é o modelo para ser seguido por essa juventude? Eu não acho. Bem, mas eu sou talvez mais um careta como o Kaká, na sua opinião. Agora, o Ministério da Saúde também não enxerga com tanta boa vontade essa banalização, pois tem de lidar com o subproduto disso a cada dia. Artigos como os seus passam, mas os índices absurdos de gravidez na adolescência vão se dilatando, bem como o número de infectados por doenças venéreas. Ah, vale também citar os problemas de ordem econômico-familiar gerados por um filho não planejado e, às vezes, nem desejado.
Sexto
Já passou da hora de pararmos de idealizar a malandragem, principalmente no meio esportivo. Esta visão, sim, é a coisa mais anacrônica que existe em tempos de alta performance, de contratos milionários e de público na casa dos bilhões. Aliás, Zé Geraldo, dentro deste contexto, Kaká é bom exemplo, sim, e muito melhor do que os preconizados ingenuamente por você – e os contratos publicitários deste jogador confirmam o que escrevo aqui.
Sétimo
Paro por aqui, pois minha resposta já é maior que seu texto, o que revela minha pouca habilidade com as palavras, mas também a minha indignação diante de julgamento tão raso promovido por você, não sobre Kaká, mas sobre as bandeiras que ele tremula.

Fábio Bettes
Professor de Literatura, autor de livros didáticos, paranista entristecido pelo recente rebaixamento, leitor da Folha de S. Paulo, casado com a Andréa, pai do Davi (5 meses) e da Laura (2 anos), que preferia ter como genro o careta Kaká ao pegador Vágner Love.

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